A cantora e compositora curitibana Raissa Fayet acabou de fazer o pré lançamento do seu segundo disco, “Rá”. Raissa é uma das maiores vozes da atual cena curitibana, sua voz e presença de palco são marcantes.
Em 2012 ela lançou “Raissa” com produção de Tom Saboia e Xandão Meneses. Este ano, veio o transcendental “Rá” com produção do alemão Christian Lohr , Neste meio tempo, ela lançou um mini documentário que foi gravado na Vila de São Jorge, durante o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em Goias. O registro em vídeo traz entrevistas com os músicos que estiveram presentes na gravação do disco e com o produtor alemão.
Confere ai o papo super bacana que rolou com Raissa pro Blog.
[Tudo o que você (ou)vê] Quem é Raissa Fayet?
[Raissa Fayet] Raissa é um ser encarnado, eterna aprendiz em busca de uma evolução espiritual/humana, conectada com a natureza, com a fé, alquimias, energias.
[Tudo o que você (ou)vê] Você tem uma ligação muito forte com a natureza, suas letras, crenças… o que tudo isso influi em seu trabalho e qual é a importância dessa ligação com a sua música?
[Raissa Fayet] “Existirmos .. a que será que se destina..” (Caetano). Para estarmos saudáveis, o nosso ar, água e alimentação são as bases desse existir.. a natureza nos proporciona o melhor disso, então, como não estar atenta a isso?
Falo, escrevo o que vivo..sinto, presencio.. a natureza é um êxtase em constante oração.
Podemos nos conectar e resgatar o sagrado dela, pois sem, “no hay banda no hay Orchestra”! (Citação do filme cidade dos sonhos – David Linch).
[Tudo o que você (ou)vê] Como foi sua experiencia no Red Bull Music Academy Bass Camp? E o que essa experiência impactou na sua música?
[Raissa Fayet] Foi incrível, eles são muito generosos e visionários. Do Brasil foram selecionados dois artistas, eu e o Russo Passapusso do Baiana System, um dos grandes nomes da minha geração.
Sempre aprendendo, se reinventando, abrindo horizontes, tive a oportunidade de estar mais próxima da produção eletrônica, da tecnologia.. Gravei duas canções em parceria com o Russo e Diego Maldonado da ONErpm Colômbia. A Red Bull tem me aberto vários caminhos :).
[Tudo o que você (ou)vê] Qual a importância do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros que acontece na Vila de São Jorge (GO) no seu processo de criação para o seu trabalho mais recente?
[Raissa Fayet] O início de uma nova cura se iniciou nesse lugar, embaixo da terra uma placa de cristal enorme reverberando, , uma vila caminhando para auto sustentabilidade, 33% da biodiversidade do Brasil… E o maior encontro de culturas tradicionais do Brasil. O disco teve início criativo nesse dilúvio de cultura, natureza e misticismo. Inspirações de todos os lados, os mestres da cultura tradicional, várias etnias indígenas e seus rituais, o povo kalunga, suas artes e rezas.
Um despertar para esse ser mais consciente, presente. Essa terra me inspira, me acolhe, me ensina. Transbordo inspiração com tudo isso. Rá foi abençoado nas águas puras de Goiás.
[Tudo o que você (ou)vê] Quais são as principais diferenças do seu primeiro disco, “Raissa” gravado em 2012 com produção do Tom Saboia e Xandão Meneses, para o segundo, “Rá” de 2017 produzido pelo alemão Christian Lohr?
[Raissa Fayet] “Raíssa” foi um experimento pra mim, primeira vez em estúdio, entendendo o processo da canção, desde o papel até o Mp3, e fui acolhida por seres incríveis e talentosos como o Tom e Xandão. Eu, engatinhando em composição, juntando as músicas de menina ainda.
Os arranjos fuderosos deram um ar mais moderno, desde guitarras do Xandão, batera do Boquinha a scratchs e samples do DJ Negralha, inserindo o disco “Canto dos Escravos” de Clementina de Jesus, Geraldo Filme, Tia Doca, na costura de algumas faixas do disco ( todos integrantes da banda “O Rappa”). Metade do disco foi gravado em estúdio e a outra num show ao vivo e foi lançado junto a um DVD. A parte ao vivo foi gravada no Jokers com uma banda incrível, Gabriel Teixeira (Guitarra), Henrique Peters dos Mutantes (teclados) Vini Junqueira também dos Mutantes (baixo) e Endrigo Betega (bateria ).
Logo em 2013 conheci o Christian e iniciamos o processo de criação e gravação do Rá, eu não tinha muitas musicas novas, então regravamos algumas canções do disco Raissa. Como o processo inteiro durou quase 4 anos, tivemos mais tempo de pensar em detalhes, tanto de criação, arranjos e de gravação.
A principal diferença entre eles foi essa escola música na prática e tempo para aprofundar, amadurecendo tanto da mulher quanto da artista, isso muda as frequências das sonoridades também.
Tudo o que você (ou)vê] Como foi trabalhar com o alemão Christian Lohr que já trabalhou com Mick Jagger e Joss Stone?
[Raissa Fayet] Ele é simplesmente incrível, muito talentoso e generoso.
Além de produzir, criar, ele é um monstro de um instrumentista e coaching. Aprendi muita coisa, conheci muitas outras, longa história essa. Outro universo, ele falava: gravar um disco assim é como se fosse uma faculdade. Todas as conversas eram em inglês, a vibe era da chapada, mas as gravações de parte do disco foram feitas na Alemanha no inverno.
Uma loucura.
[Tudo o que você (ou)vê] Por que Rá?
[Raissa Fayet] Rá é meu apelido desde pequena, minha família e amigos me chamam assim. Tenho isso até tatuado no pescoço, mas aí com o tempo veio o significado…
Rá é o Deus sol do Egito (Amon Rá), e dizem que é um dos Söns primários do universo.
Rá é a ideia de um novo momento, de criar uma rede de seres, cada um som suas habilidades, para uma transformação sustentável e consciente.
[Tudo o que você (ou)vê] Suas letras são em essência recortes do seu cotidiano, como por ex “Maria da Paz” e “São Jorge” que são inspiradas em sua avó e a vila de São Jorge, mas não apenas canções autobiográficas, como é o processo de produção das suas letras?
[Raissa Fayet] É sempre muito relativo, eu recebo muitas coisas em meditação, oração, mas sempre tem esse viés da transformação. Escrevo o que vejo, sinto, vivo e recebo. Estou sempre escrevendo…poemas, poesias…insights e afins.
Vem unir em paz, o amor transforma tudo
Vamos celebrar, o amor chegou na Vila de São Jorge
O amor está aqui
[Tudo o que você (ou)vê] Fale sobre as suas influências e o que tem ouvido recentemente? E qual sua visão sobre a cena autoral curitibana?
[Raissa Fayet] Escuto muita coisa, muitas referências, sempre falo… Do caipira ao jazz, do funk ao clássico. Do sertanejo ao dance, hip hop ao reggae. Do rap ao repente, raga ao blues. Música folclórica tradicional, cantos de rituais e dos trabalhos, etc…
Mas recentemente tenho escutado música africana, cabo verdiana e brasileira. Rokia Troure, Mayra Andrade, Cesária Évora, Sara Tavares, Salif Keita, Céu, Baiana System, Criolo, Francisco El Hombre, Xênia França e assim vai…
Sobre a cena Curitibana…
Tá muito maravilhoso, tem muita coisa foda, mesmo. Mas sempre acho que tem um mistério envolto na cidade. Acho um pouco confusa a cena e como ela se ajuda e se sustenta, tem talento a rodo, pessoas interessantíssimas, mas ainda falta união, fortalecimento e se ajudar de verdade.
[Tudo o que você (ou)vê] Quais seus próximos passos?
[Raissa Fayet] Ideias de gravar com o Russo Passapusso esse ano ou no máximo primeiro semestre do ano que vem e lançar pela Red Bull. Ir para São Paulo passar uma temporada, lançar o disco Rá, em Curitiba, Sampa e Rio, e depois viajar em turnê tocando por aí, litoral e aonde surgir. Ano que vem, passar uma temporada na Europa, tocando e estudando por lá. Projetando novas parcerias.
Mas como tudo flui, tudo pode acontecer no caminho.
Um beijo
Ouça o disco Rá
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